sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Orquídeas

"Pra que lado sopra o vento? É uma brisa.
Arejado frescor, de orquídea em flor."

Volta e meia ganho um vaso de orquídeas. Adoro, mas não entendo nada dos mistérios dessa flor tão complexa quanto bela.Nosso amigo pantaneiro, incentivou-me a começar organizá-las. Então prendi algumas numa árvore grande que tinha bem na frente daquela rampinha que dá acesso à minha varanda. Raramente elas floresciam. Assim mesmo, timidamente, lá no alto. Não dava pra sentir seu toque aveludado, seu perfume exótico, sedivertir tentando encontrar uma figura no seu miolinho. Num dia de tempestade essa árvore rachou e precisou ser derrubada. Meu filho, de improviso, retirou as orquídeas, prendeu de qualquer jeito em alguns pedaços de xaxim e pendurou-as debaixo da minha cerejeira, na parede dos fundos da casa. Para nossa surpresa elas adotaram aquele lugar como sua casa e começaram a dar muitas e lindas flores. Sempre tenho um vaso florido. Fico toda orgulhosa! Elas não dão trabalho. O suspense é grande quando descubro algum botão. Demoram meses para desabrochar e mostrar suas cores e perfume. Nunca sei como serão as flores. Grandes? Pequenas? Brancas? Rosadas? Agora mesmo estou de olho em duas que, daqui há um tempo, vão me surpreender com toda a certeza.

Uma, bem pequena, meio esverdeada, delicada como ela só, tem cheiro de Gelol, uma outra exala forte aroma de chocolate e , vejam só, é marronzinha como uma barrinha da Nestlê...

Na Clínica de Fisioterapia tem um senhor, o nome dele é Paulo, que conversa muito comigo durante os penosos exercícios e tem me ensinado alguns segredos dessas plantas. Uma gosta de água gelada, outra, se polvilhada mensalmente com canela em pó fica mais perfumada, outra não suporta umidade, aquela tem de ser mantida longe de qualquer tipo de terra... Caprichosas, as mocinhas! Começo a colocar em prática o que vou aprendendo. Só não consigo, e acho que também não quero, saber nomes, famílias e gêneros... Sou amadora.
Essa semana mudei algumas para vasos e cestas, usando argila expandida, gravetos de pinho, farinha de osso e torta de mamona. Fiquei espantada ao descobrir que já tenho mais de vinte vasos... Vou começar a fotografá-las para saber qual é qual. Aí não vou mais ter tanta dúvida. E, com certeza, o elemento surpresa vai acabar. Será que vale a pena?

Esse texto vai para o João, que lá no Pantanal, cultiva tão belas flores. E para o senhor Paulo, paciente professor dos caprichos dessa flor ...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Noite Italiana

" Reunir os amigos em volta da mesa, partilhar o pão, a alegria e as experiências vividas..."

Quando as duas voltaram da primeira viagem internacional, chegaram com um brilho diferente nos olhos, mudaram o jeito de falar, de andar e de vestir. Será que, tão poucos dias longe desse mundinho tupiniquim, tem o poder de transformar tanto assim duas pessoas? É muito pouco tempo...
Será que o trânsito por aeroportos internacionais, o romantismo de Veneza, o luxo e sofisticação de Paris e o carinho recebido em Verona, tiveram o poder de deixar as duas tão diferentes?
Acho que sim.
Sei do que elas são capazes. Tenho experiência. Mas... Dessa vez surpreenderam. Disseram que foi a mais nova que fez tudo sozinha. duvidando! Foi tudo perfeito demais. Devem ter contratado uma assessoria especializada.
Quando eu digo tudo, é TUDO mesmo! A mesa arrumada com a toalha xadrez com as cores típicas das melhores cantinas italianas, os pães rústicos, os queijos já cortados com estilo sobre a tábua, as uvas, os vinhos...
Os amigos foram chegando e se achegando à mesa farta. Timidamente, escolhiam uma cadeira, começavam a bebericar nas taças de cristal, tiravam lascas do queijo, elogiavam a bebida.
Um dos amigos, enólogo praticante, se intimidou com os vastos conhecimento do dono da casa sobre a formação geológica dos vinhedos nacionais, o microclima como fator predominante na excelência de algumas uvas, o tempo de maturação dessa e daquela casta, as características de cor e sabor, o aroma e o corpo dos chilenos e seu tanino marcante, as melhores safras dos argentinos da região de Mendoza... E os adjetivos? O que seria dos vinhos sem os adjetivos? Sutil, agudo, delicado, masculino, amadeirado, frutado, jovem, leve, intenso...
Alegria! Acabam de chegar da cozinha, as brusquetas, preparadas com técnica italiana, azeite extra-virgem, tomates, alho, manjericão e calabresa... Fumegantes. Deliciosas.
E a conversa corre solta. Acredito que o vinho contribui para soltar a língua e aquecer a alma. Ajuda a esquecer que o dólar subiu, o avião caiu, a Bolsa despencou, o Lula discursou e a Evi casou e mudou....
E é graças a ela é que hoje estamos aqui neste festival gastronômico. Foi uma overdose de sabores. A “pasta” divina, no ponto certo de cozimento, quente como deve ser, o tempero perfeito, o aroma sutil do Marsala misturado ao manjericão... Nessa hora, o assunto foi minguando. Todos muito ocupados em conseguir enrolar no garfo o spaguetto. Claro que ninguém se atreveu a cortá-lo com a faca. Seria um sacrilégio imperdoável.
Acha que acabou? Nada disso, lá vem a menina, já com jeito de “mamma”, toda poderosa, trazendo o sorvete e as caldas de mirtilo, lampone e morangos. E ainda tem o vinho próprio da sobremesa. Doce, requintado, dourado...
Será que o enólogo de plantão concorda com esses adjetivos?
No final ainda presenciamos a entrada triunfal de um bolo de aniversário para uma das convidada, parabéns pra você, presente e abraços.
Eu disse que elas mudaram... E mudaram mesmo. Agora não recebem mais com sotaque do norte de Minas, com aquele jeito doce de quem veio de lá. O sotaque agora é outro. Vem do outro lado do Atlântico.
O coração , no entanto, veio maior, compartilhando com os amigos a alegria das novas terras recém descobertas...


Este texto foi escrito em 18/08/2007 e vai para a Marlene e Ana Paula, duas meninas que trouxeram da Europa , a Itália guardada num cantinho do coração.