quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Carta aberta ao meu primo Ricardo


Querido primo,
Tenho tido notícias suas através de suas irmãs. Sei que você tem feito sessões de químio e que vem enfrentado com coragem e determinação mais esse desafio. Você se queixa do tal "canal projetado para a saída de líquidos" estar sendo exposto e manipulado. Pois eu lhe digo uma coisa, caro primo. Quando estive no CTI, essas questões morais começaram a incomodar. Comecei a sofrer mais por causa disso. Então resolvi que tinha coisas mais importantes com que me preocupar. O sofrimento físico já era grande demais pra ficar prestando atenção em fraldão, sonda na uretra, negão me dando banho, injeção no traseiro, comadre e dependência total e absoluta de pessoas desconhecidas. Quer saber mais? Pra médico e equipe de enfermagem isso é rotina. Sai você, entra outro paciente. Aproveite pra transformar esses pequenos pesadelos em momentos de reflexão. Palavras doces como afeto, carinho, amizade, família, amigos, incentivo, coragem, otimismo e esperança. Lembre-se que Rubem Alves já disse um dia: Otimismo é quando a gente está certo que o caminho é seguro e você vai passo a passo. A esperança é quando não tem caminho e você abre as asas e voa. E é nesse voar, meu amigo, que encontramos tempo para admirar a paisagem da nossa vida. E, também, é nesse voar que começamos a idealizar as novas paisagens, coloridas, plurais, multifacetadas. E também novas certezas, novas dúvidas, novos planos, novos sonhos e novos recomeços. Muitos recomeços...
É assim prezado Ricardo, que vamos vivendo. Um dia de cada vez. O destino, volta e meia, teima em nos pregar peças, para aprendermos , no futuro a dar boas gargalhadas. Tenho certeza que esse futura está bem próximo. Um grande abraço e meu carinho,
JULIETA
PS... Hoje, ao ler sua mensagem, lembrei-me de um certo pub londrino, onde nos encontramos, num dia chuvoso, no século passado, para beber cerveja e jogar conversa fora....

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

COMIDINHAS - Quem sabe faz ao vivo

"Cozinhar é um jeito carinhoso de agradar a gregos e troianos"


















Acabando de fazer as compras num grande supermercado propus um sanduíche.... Comecei a escolher alguns frios, queijos e pães, quando o Leo, observando as minhas compras sugeriu, sem mais nem menos, que o o nosso lanchinho da tarde se transformasse num jantar de gala. Devolvi humildemente o que já estava no carrinho, enquanto ele apanhava, displicente, alguns camarões, anéis de lula e um punhadinho de mexilhões. Acho que comprou um filé de peixe. Não me lembro bem... Já em casa, buscou na geladeira pimentões vermelhos e amarelos, descascou as cebolas, amassou dentes de alho. Já com a velha frigideira no fogo, deu início ao preparo da paella. Ou seria um risoto? Um bom azeite despertou os aromas do alho e da cebola. O arroz arbóreo , o açafrão da terra, os frutos do mar... tudo a seu tempo, tudo cuidadosamente incorporado ao preparo do alquimista. O sal, a pimenta do reino, o vermelho vivo dos pimentões e por fim a cebolinha. Pronto... Um vinho branco e , em menos de uma hora, em vez de um prosaico sanduíche de salaminho, estávamos degustando um prato fantástico, que me levou de volta às terras espanholas. Eu, ele e a Rê sentamos na cozinha mesmo e ficamos alí, entre " HUUUMMMMS" e suspiros comendo e conversando até mais tarde. Claro que amanhã a marmita da Rê vai ser invejada ... Não é toda quarta-feira que se tem o privilégio de um chef à nossa disposição.

Esse post vai para o Leo, filho querido, que a esta hora deve estar contemplando a lua na Chapada dos Guimarães. Observem que existe apenas um camarão virado ao contrário. A culpa foi minha que estraguei completamente a estética do prato...

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