sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Lugar de homem é na cozinha

"Cozinhar bem é como criar uma obra de arte. Quem gosta de cozinhar, também gosta de inventar"

Desde muito cedo que transito pela cozinha com mais desenvoltura que pela sala de visitas. Minha avó, minha mãe, meu pai. Todos gostavam da lida. Muitas vezes vi amigas me olhando de lado, como se eu fosse uma espécie em extinção. Hoje, finalmente estou na moda. Em qualquer festa, reunião, revista semanal, novela da Globo, jornal escrito ou televisado, canal a cabo ou almoço em família o assunto está presente.
A cozinha que conheci quando criança era simples, os ingredientes comprados na esquina e a dona da casa punha a mão na massa. Literalmente. Minha mãe fazia a massa do macarrão em casa, minha avó era perita no pudim de pão, doce de laranja da terra, pé-de-moleque. Meu saudoso pai, filho de uma italiana de Ferrara, modelava os capelettis um a um, por ocasião do Natal.
Hoje é cada vez mais comum um homem envolvido com a culinária. Meu avô tinha orgulho em dizer que jamais fizera um mísero chá, pois cozinha era território feminino. Movidos por prazer, vaidade ou desejo incontido dos elogios que certamente virão, muitos já trocaram o paletó e a gravata pelo fogão, que pilotam com competência e paixão.
Ligo a tv e vejo o francês Olivier Anquier fazendo pratos da culinária tupiniquim, o inglês Jammie Oliver preparando uma feijoada brasileira e o mestre Alex Atalla misturando foie gras com tucupi, ou fazendo tapioquinha com calda de bordo. Em todos os canais abertos temos programas e mais programas dedicados ao assunto. A variedade inesgotável de ingredientes que estão à espera dos mais ousados no mercado é uma verdadeira festa para quem quer inventar, inovar, experimentar. Pratos requintados, complexos e cheios de truques desafiam os que são leigos. Vocábulos desconhecidos como fuê, bouquê garni, merengue, terrine, fondue, quiche, profiteroles, funghi são um verdadeiro enigma. Verbos como gratinar, saltear, degustar, flambar, harmonizar, aromatizar e clarificar fazem parte das conversas nas confrarias de gourmets espalhadas por aí. Ingredientes até bem pouco tempo desconhecidos, como aceto, cheddar, anchovas, radichio, broto de alfafa, trufas e escargots se encontram facilmente no "mercadão" ou nos sacolões. Também as carnes raras como as de avestruz, javali , jacaré faisão ou vitela. Queijos amadurecidos nas cavernas francesas ou italianas (suíças, talvez). Os temperos vêem de todo o planeta. O curry da India, as pimentas da Jamaica, da Calábria ou da Síria, o orégano do Chile, as sementes de mostarda da Holanda, o cominho do Peru, o cardamomo dos países árabes juntaram-se aos nossos temperinhos como alho, sal e pimenta do reino. Frutas exóticas como o tamarillo, curuba, physalis e a pitaya estão chegando da Colômbia para enfeitar as saladas e sobremesas mais elaboradas.
Todos os dias ouvimos um novo chef adjetivar cafés, vinhos, azeites, queijos ou cervejas com palavras antes só utilizadas quando se falava de mulheres. Observem. Delicadeza, graça, sutileza, finura, primor, perfeição, perfume, textura....
O mundo culinário e gastronômico cada dia ganha ares mais sofisticados. Restaurantes de todo o planeta dão uma idéia clara de globalização. Os mexicanos com guacamoles picantes, os japonese com sushis delicados, os árabes e seus petiscos perfumados com hortelã, os espanhís e os tapas deliciosos, italianos, chineses, tailandeses, iranianos, argentinos, espanhóis ... Uma verdadeira overdose de nacionalidades.
A Internet é um mundo à parte quando se fala em arte culinária. Os novos livros lançados, equipamentos para a cozinha, ingredientes sofisticados, banco de dados com milhares de receitas, entrevistas com grandes e famosos chefs deixam-nos a certeza que o assunto é inesgotável. A história da culinária remonta períodos biblicos, quando a alquimia do pão, do azeite e do vinho já eram preocupações humanas. Essa história, se não me engano começa com os chineses, depois com gregos, romanos...
Filmes como A Festa de Babette; Chocolate; Vatel, o Cozinheiro do Rei e tantos outros nos convidam a celebrar a cozinha como o lugar onde os aromas, os sons, os sabores, as cores e texturas desafiam e excitam nossos cinco sentidos.


Este texto é para o Felipe e suas dúvidas quanto ao futuro, que chega mais rápido do que nossa vã filosofia pode supor.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Será que é tão fácil?

" Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias." Pablo Neruda



E... parece fácil. Mas tem dias em que a letra maiúscula e o ponto final estão ali, prontos para lhe ajudar na tarefa de escrever. Mas, as ideias.... Essas não chegam, não se constroem, lhe confundem. Estou pensando que se fosse a editora de um jornal seria fácil. Posso escrever a primeira página, com as manchetes de sempre: Renan, Bush, Bagdá, Osama, Lula, traficantes, polícia federal, morte nas estradas... Fácil. Letras grandes, fotos recentes ou de arquivo. Tanto faz. As noticias e os personagens são sempre os mesmos. O olhar é que muda.Depende do momento, do estado de espírito.
Sei que escrever não é tão fácil assim. É , como já li em algum lugar, dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração.
Há que trabalhar. Suar a camisa...