sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Palavra Leve

"Palavras são animais esquivos, ora belos, ora mortais. Ninguém os domestica de verdade, ninguém consegue fugir do seu poder. Mas nem sempre sabemos o poder que elas têm e concedem." Lya Luft

Acredito firmemente que as palavras têm alma. Têm sentimento... E têm poder. Podem ser bonitas e feias. Grande, pequenas, mínimas. E nem por isso deixam de expressar o que está no coração de quem a diz. Um OH! pode significar surpresa, alegria de um reencontro, medo, espanto, decepção... Depende de quem e de como é dita essa palavrinha. As palavras que são como pedras de atiradeira podem ferir de morte quem as ouve: inveja, fome, solidão, vingança.
Algumas palavras são tão antigas que quase perderam o sentido. Formidável, motorneiro, radiola, combinação, anágua, alfaiate, datilógrafo... Outras são palavras leves, como meiguice, neném, bombom, mal-me-quer, amor-perfeito, beija-flor...
Se procurarmos direitinho, bem lá no fundo do nosso dicionário interno, vamos descobrindo palavras que consolam, que acalmam, que excitam, que magoam, que enfurecem, que divertem, que provocam gargalhadas e que nos fazem sonhar sonhos de estrelas, de luar, de mar azul....que já são outras palavras, cheias de significados...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

BÁLTICO - Zanzando pelo Báltico

Este é o título de uma crônica do Affonso Romano de Sant'Anna, publicada no Jornal Estado de Minas , em 26/08/2007

Não pude me conter ao ler a descrição da viagem do cronista que percorreu o mesmo roteiro que nós, em maio de 2005. Então lhe enviei um e mail, que ele gentilmente respondeu.
Ele diz que "quando a gente viaja, deveria, como a jibóia, na volta, ficar à toa só digerindo o que assimilou." E não é que ele tem toda a razão? Como não ficar pensando, revendo fotos, contando para os amigos mais pacientes as nossas experiências de turista? O que comemos, como vivem os povos de tão longe, quais as dificuldades que encontramos com a língua, com os costumes, que o frio é inacreditável, o medo do desconhecido, as risadas que demos, as gafes cometidas?
Eu tenho o hábito de fazer um diário de qualquer viagem, por mais curta que seja. E isso é interessante, principalmente porque passado algum tempo, pequenos detalhes nos escapam. A memória falha e perdemos aquilo que nos foi tão prazeroso naquele momento. Estando registrado podemos novamente viajar, sonhar, rir das bobagens acontecidas, nos emocionar outra vez.
Todo o esplendor de São Petersburgo, o fantástico Museu do Ermitage, as fortalezas, as cúpulas douradas dos palácios e catedrais, o azul profundo do Rio Neva, as praças monumentais e toda a história russa me voltou à memória ao ler a crônica do Affonso Romano. Reli então, com carinho, as minhas anotações e me deliciei ao recordar a magnífica viagem que fizemos, conhecendo os caminhos do Báltico, sentindo no rosto os ventos gelados vindos do Pólo Norte e vivenciando dias que não acabam nunca, pois só escurece depois da meia-noite e duas horas depois já começa a clarear o céu do outro lado do mundo.
Com certeza, a melhor viagem sempre será a próxima.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

VIDA VIVIDA

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra".

Em 1991 ouvi o grande Mário Lago dizer essa frase durante uma entrevista e nunca mais me esqueci dela.
Há pessoas velhas que viveram poucos anos e, o contrário também é verdadeiro: pessoas que já viveram muito e são jovens, muito jovens. São aquelas que reafirmam que a vida começa a cada ano que passa. Que semeiam a esperança em cada palavra, em cada gesto. São aquelas que recriam os sonhos e dizem palavras total e absurdamente novas. Que redescobrem a coragem de ter ilusões. Que mantêm a capacidade de extasiar-se perante o mundo. Que já se livraram do medo, da angústia e da melancolia. Que não mais se envergonham da emoção mais pura e, derramam lágrimas, com a maior tranquilidade de uma criança. A alegria de viver é seu lema. O otimismo a sua bandeira.
Apesar das oito ou nove décadas vividas, elas acreditam que podem dar um passo, um salto para o futuro, para a mudança, para o novo, para a reinvenção. Aceitam desafios, acolhem as limitações, buscam descobrir o sabor da eternidade.
Essas pessoas sabem como ninguém, que o bom da VIDA é saber retirar dela os momentos que a tornam maravilhosa...

Este texto eu dedico à Dulce Esteves, guerreira invencível de grandes batalhas.

Julieta/ 04/09/2007

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Belo Horizonte

" Assim vou por Belo horizonte: mancando. Uma perna bate com dureza no piso presente. A outra procura um apoio difícil nas pedras antigas." Paulo Mendes Campos

Para quem conhece cidades milenares, Belo Horizonte com seus cento e poucos (pouquíssimos) anos, parece uma criança. Mas é a minha cidade. Largas avenidas, prédios modernos, lugares que só nós, os belorizontinos, conhecemos. Dizem que BH não tem grandes apelos turísticos, mas seu complexo hoteleiro é excelente. A orla da Pampulha e todo o complexo arquitetônico projetado por Oscar Niemayer são dignos de uma visita. A Igrejinha de São Francisco com curvas que lembram as serras mineiras, as pinturas e mosaicos de Cândido Portinari e os jardins de Burle Marx são de grande beleza. O Mineirão e o Mineirinho, a Casa do Baile, o Museu de Arte Moderna e a Fundação Zoo Botânica, moderna e bem cuidada surpreendem os visitantes. Ali perto, o Campus da UFMG merece ser visitado, pela sua grandiosidade. Ela foi considerada a melhor do Brasil, na última avaliação realizada pelo MEC.
A Serra do Curral protege a cidade, apesar das mineradoras e da especulação imobiliária já terem desfigurado seu perfil original. A Praça da Estação Ferroviária e o antigo relógio no alto do prédio em estilo eclético são o ponto alto desse espaço hoje bastante utilizado para eventos populares. Logo ali pertinho estão a Casa do Conde de Santa Marinha, a Serraria Souza Pinto e os Viadutos da Floresta e o de Santa Teresa, com seus arcos de poesia. Digo poesia, porque nos anos 30 e 40, serviram de palco para as aventuras de jovens românticos, como Drummond e seus amigos do Encontro Marcado.
O centro da cidade abriga jóias arquitetônicas como o Automóvel Cube, o Conservatório Mineiro, o Palácio da Justiça. Isso sem falar no moderno Palácio das Artes, plantado no Parque Municipal, com suas árvores centenárias e o grande lago com pedalinhos e canoas, o orquidário municipal, o Imaco, o Teatro Francisco Nunes.
A Praça da Liberdade, além das flores multicoloridas, coreto e fontes luminosas, abriga um acervo de belos prédios como o Solar Narbona, o Palácio do Governo e as Secretarias de Estado.
Beagá não tem MAR, tem BAR. E como tem! O festival de Comida de Boteco mostra toda a criatividade culinária das Minas Gerais e a grande disposição do mineiro de jogar conversa fora na mesa de um botequim. A gastronomia mineira e internacional tem seu espaço garantido nos ótimos restaurantes de cidade. Os bares do Mercado Central são os mais tradicionais. O fígado acebolado com jiló e a cerveja gelada são uma espécie de religião para os frenqüentadores dominicais. O colorido e o cheiro do mercado são marcantes: os queijos, a pinga, a linguiça, as pimentas coloridas, os doces, as flores...
A Feira de Artesanato acontece aos domingos na Avenida Afonso Pena e reúne mais de três mil e quinhentos expositores, fazendo com que seja considerada uma das maiores do Brasil. O Barro Preto e seu Pólo de Moda traz a Beagá muitos compradores de outras cidades e até do exterior.
A cidade se destaca pelas suas inúmeras opções culturais, que passam por peças de teatro, eventos literários, exposições, festivais e recitais e toda gama de manifestação artísticas nacionais e internacionais.
Belo Horizonte hoje enfrenta os problemas característicos das grandes metrópoles brasileiras, mas ainda é um ótimo lugar pra se viver.