"Ninguém morre antes da hora, a não ser o peru, que morre na véspera (do Natal)"
Acabo de ver decretada a extinção do famoso livro (ou caderno) de receitas. Resolvi pedir uma ajudazinha ao Google para um peru de Natal mais sofisticado. Cansei do peru à brasileira, com farofa de ovos ou torresminhos de bacon. Não quero peru à Califórnia, com aquele indefectível doce de pêssego, ameixas pretas e cerejas. Quero inovar. Surpreender meus amigos. E não é que eu é que fiquei surpreendida? Imaginem que só de peru são mais de quinhentas e noventa e cinco mil receitas. Pode conferir. Tem peru pra todo gosto. Recheado com camarões, com couscous marroquino, com molho de funghi, com carne de porco. Com maçãs caramelizadas, com gorgonzolla, ou castanhas. Desossado, fatiado, dourado. Com cobertura crocante ou cremosa. Tem uma receita do Alentejo (Portugal) sugerindo que o peru ficará mais gostoso, se obrigado a voar antes do abate. Ele deve ser embriagado com uma boa talagada de pinga, ou whisky de boa qualidade para amaciar a carne e deixá-la suculenta. Como pode a pobre ave voar completamente bêbada??? Descobri ainda, durante essa pesquisa, a história do peru. Ele é originário da América do Norte. Foi lá que Colombo ficou conhecendo o dito cujo. Até hoje os perus selvagens são muito apreciados na terra do Tio Sam, principalmente durante as festas de Ação de Graças.
Aqui, na Terra Brasilis, consideramos indispensável , às vezes obrigatório, assá-lo para a ceia de Natal. Não sei bem porque, pois o peru que assamos dia 24, com certeza estará na geladeira no dia 31 para ser reciclado para as festas de Ano Novo. Apesar de muitos não quererem comer bicho que cisca pra trás, pra não atrasar a vida no ano que se inicia.
Voltando à receita de peru assado, fiquei perdida entre tantos sites e chefs, receitas e explicações pouco convincentes. Resolvi então comprar um já bem mortinho, macio, previamente embebedado pela Sadia ou Perdigão e com um termômetro que pula quando ele estiver assado. Na hora eu resolvo o que fazer. Coloco por cima alguma coisa que tiver na geladeira e por dentro qualquer coisinha que tiver no armário. Fica mais fácil que procurar ler e entender mais de meio milhão de receitas (só em português, ouviu bem?). Se você domina outra língua vai ter um pouco mais de opções. Também resolvi que vou jogar fora todos os meus caderninhos de receitas copiadas da vovó, da mamãe, da Ofélia e da Ana Maria Braga. Vou sempre apelar pra internet, mesmo que os almoços de domingo não fiquem lá grande coisa. É bem mais moderno e atual. Experimental. Virtual...
Esse post vai para o Cristiano que não concebe uma ceia de Natal sem o famigerado peru e para a Raquel que não sabe o que fazer com aquele, que está na geladeira esperando para ser assado ainda em 2007.
sábado, 22 de dezembro de 2007
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
HISTÓRIAS INFANTIS - Quanta sutileza!
" Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau. E pego as criancinhas pra fazer mingau.""
Recebi de uma amiga uma dessas mensagens que nos faz pensar sobre as bobagens que falaram com a gente quando éramos crianças e que repetimos aos nossos filhos e agora aos nossos netos. A tal mensagem analisava as letras das musiquinhas infantis brasileiras. O boi da cara preta vai pegar a pobre criancinha que tem medo de careta e a famigerada Cuca agarrar o nenen cujo pai foi pra roça e a mãe foi trabalhar. Que irresponsáveis!
Atirei o pau no gato é outra pérola. Mesmo não morrendo da paulada, o bichano e seu berro sofrido causam a admiração na tal da Dona Chica-ca-ca. A discriminação e a desigualdade social são cantadas em prosa e verso quando eu sou pobre, pobre, pobre e me afasto dando marré de si. O Bitu não vem cá, porque morre de medo de apanhar. E se não me engano isso está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente... E dá cadeia. Quando a canoa virou foi fácil botar a culpa na Maria que não soube remar, incentivando o mal caratismo. A pobre da Sambalelê está doente e com a cabeça quebrada e mesmo assim vai levar umas boas palmadas. A arrogância, talvez do sargento, manda o soldado marchar direito, senão vai preso pro quartel, lembrando os anos da ditadura militar.
O Cravo brigou com a Rosa e ficou ferido , chegando a desmaiar. A Rosa pôs-se a chorar, mas o mal já estava feito e como em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher...
Ao pensar um pouco nas trágicas letras dessas inocentes musiquinhas, comecei a lembrar das histórias que contamos para as crianças e que, há tempos, nos contaram também.
A mãe do Chapeuzinho Vermelho manda a pobre menininha para a floresta, mesmo sabendo que lá mora um terrível lobo mau. A Branca de Neve, é levada para a floresta por um caçador serial killer que vai arrancar o coração de seu peito para entregar à cruel madrasta. Ela consegue escapar e vai morar com sete anões (talvez tarados), até ser envenenada e beijada por um príncipe bicha (se ele usava aquelas calças apertadinhas e capa esvoaçante, era bicha com certeza). Mesmo sendo quem é, o tal príncipe se casa com ela sem questionar a vida promíscua que ela vinha levando com os sete homenzinhos na floresta. Um espanto!
Os pais de João e Maria os abandonam numa outra floresta (num claro ato de abandono de incapaz). Ali eles ficam à mercê de uma bruxa antropófaga que gosta de carne gorda. Lembro ainda da Rapunzel, mantida em cárcere privado por anos a fio, da Bela Adormecida drogada (e talvez abusada) em seu casto leito virginal e assim por diante. Isso tudo sem falar nos Três Porquinhos, que acabaram "cozinhando" o lobo mau (que é um animal em franco processo de extinção - e extinção é para sempre). O Gato de Botas era um farsante que se deu bem, provando que a mentira e a canalhice combinam com qualquer um, não só com os políticos... O Pinóquio era mentiroso, traidor e cheio de problemas de comportamento, apesar dos esforços do Grilo Falante para colocá-lo na linha...
Acho melhor parar por aqui. Chego a conclusão que os traumas de infância estão bem justificados, assim como a violência das crianças, a falta de limites e o desrespeito pelo que é certo...
Esse post vai para a Narinha, musa inspiradora do Márcio, tocador de rebolo
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
A MENINA DO AFEGANISTÃO
" Por todas as crianças que sofrem os horrores das guerras, do preconceito e do fanatismo, arrancando um pedaço do coração da gente, rogai por nós"
Menina do Afeganistão que ficou olhando pra mim na foto do jornal, como se pedisse socorro contra as bombas, os mísseis e contra as ordens do Talibã que já estabeleceram para ti um destino cruel: - Não mostrarás o teu rosto quando cresceres. Não terás direito algum. Não sonharás nenhum sonho de todas as moças do mundo. Não poderás estudar. Nunca estarás no meio das canções dos estádios, no meio dos debates literários, nas lanchonetes e nos cinemas dos shoppings. Jamais estarás na minha festa nem na minha alegria.
Eu vejo e peço a Deus e a Alá que te protejam contra as bombas, a fome e as ordens da milícia Talibã. Eu invoco a Deus e a Alá, para que te protejam. Deus dos humilhados e dos ofendidos. Deus dos aflitos e dos desprotegidos. Alá das crianças e dos beduínos, dos camelos e dos sonhadores do mundo árabe. Alá dos que carregam um sonho no coração como um vulcão clandestino.
Deus ou Alá tirai um pouco de mim para dar à menina do Afeganistão. Tirai do meu pão. Da minha alegria. Polvilhai a menina do Afeganistão com a minha esperança. Levai minha paz para a menina do Afeganistão. Eu vou jejuar por ti, vou sonhar e rezar por ti. Vou pedir a Deus e a Alá que ti façam mais forte que a fome e que a guerra. Mais forte que a tirania.
Aviões dos donos do mundo, guardai vossas bombas em nome da menina do Afeganistão!
Mísseis dos senhores da terra, adiai a morte em nome da menina do Afeganistão!
(Adaptação da crônica de Roberto Drumond, publicada no Estado de Minas de 9 de outubro de 2001)
Menina do Afeganistão que ficou olhando pra mim na foto do jornal, como se pedisse socorro contra as bombas, os mísseis e contra as ordens do Talibã que já estabeleceram para ti um destino cruel: - Não mostrarás o teu rosto quando cresceres. Não terás direito algum. Não sonharás nenhum sonho de todas as moças do mundo. Não poderás estudar. Nunca estarás no meio das canções dos estádios, no meio dos debates literários, nas lanchonetes e nos cinemas dos shoppings. Jamais estarás na minha festa nem na minha alegria.
Eu vejo e peço a Deus e a Alá que te protejam contra as bombas, a fome e as ordens da milícia Talibã. Eu invoco a Deus e a Alá, para que te protejam. Deus dos humilhados e dos ofendidos. Deus dos aflitos e dos desprotegidos. Alá das crianças e dos beduínos, dos camelos e dos sonhadores do mundo árabe. Alá dos que carregam um sonho no coração como um vulcão clandestino.
Deus ou Alá tirai um pouco de mim para dar à menina do Afeganistão. Tirai do meu pão. Da minha alegria. Polvilhai a menina do Afeganistão com a minha esperança. Levai minha paz para a menina do Afeganistão. Eu vou jejuar por ti, vou sonhar e rezar por ti. Vou pedir a Deus e a Alá que ti façam mais forte que a fome e que a guerra. Mais forte que a tirania.
Aviões dos donos do mundo, guardai vossas bombas em nome da menina do Afeganistão!
Mísseis dos senhores da terra, adiai a morte em nome da menina do Afeganistão!
(Adaptação da crônica de Roberto Drumond, publicada no Estado de Minas de 9 de outubro de 2001)
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