sábado, 22 de setembro de 2007

VIAGENS - A melhor viagem sempre é a próxima

"Viagem é uma maneira divertida de explorar o mundo, conhecer outras gentes, outros costumes..."
Viajar sempre fez parte da minha vida, do meu aprendizado, da minha maneira de enxergar o mundo. Desde muito cedo que isso era uma rotina em nossa casa. Meus pais e meu avô Ricardo acreditavam que viagens eram, além de lazer, uma forma de nos proporcionar conhecimentos. Praias, fazendas, sítios, grutas, cidades históricas... Em Guarapari, onde fomos inúmeras vezes não ficávamos sentados na areia, esquentando ao sol. Caminhávamos pela orla, eu, meus irmãos e amigos que pegavam carona conosco, catando conchas e algas, observando os pequenos crustáceos e estrelas do mar e restos de corais. Admirávamos as aves marinhas em volta dos pescadores, à espera de algum peixinho que escapasse da rede. Sabíamos se o vento sul ia estragar nosso dia ou se a lua seria cheia naquela noite.
As cidades históricas de Minas eram dissecadas pelo velho Ricardo que nos conduzia pelas ladeiras de pedra a discorrer sobre os inconfidentes, os bandeirantes e o ouro das Geraes...
Lembro muito bem, no Largo das Forras, na primeira vez que fui a Tiradentes, ele recitando os versos feitos pelo apaixonado inconfidente Tomás Gonzaga para Bárbara Heliodora: -"Bárbara Bela, do norte estrela, que o meu destino sabes guiar..."
Meu pai gostava de nos contar sobre o pesquisador Dr. Lund, quando nos levava nas grutas de Maquiné e da Lapinha. E um dia, nos levou ao Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro para vermos os esqueletos de dinossauro encontrados pelo arqueólogo dinamarquês. E vimos muito mais que isso. Viagem inesquecível e que rendeu muita conversa.
Mesmo quando não estávamos na estrada, fazíamos planos para a próxima viagem, contávamos casos das que já tínhamos feito ou líamos sobre as viagens de outras pessoas. Era assunto recorrente.
Com meus pais, marido e o primeiro filho que ainda não completara dois anos, em 1976 fizemos uma longa viagem pelo sul do Brasil. As maravilhas das Cataratas do Iguaçu, os monumentos de arenito de Vila Velha, os vinhedos das serras gaúchas e a revoada de garças nos pampas são paisagens inesquecíveis. Atravessamos as fronteiras da Argentina e Paraguai conversando com ao povo da região, conhecendo seu linguajar, culinária e costumes. Foram quase oito mil quilômetros de estradas percorridos numa Caravan branca por estradas, naquela época, muito boas.
Vinte anos depois, eu Danilo percorremos, em excursão, todas as capitais do Nordeste, indo pelo litoral e voltando pelo árido sertão brasileiro. Belas praias, fortificações históricas, igrejas e mosteiros, museus de arte sacra, mercados e a cozinha regional nos deram uma clara idéia da miscigenação e da riqueza cultural do nosso país.
A arte popular do nosso país é riquíssima. Há quem chame de artesanato. Não é porém uma arte menor. Mestre Vitalino, as mulheres rendeiras do Sul e do Nordeste, as tapeceiras de Diamantina, as ceramistas do Vale do Jequitinhonha, os escultores de carrancas e de santos, as bordadeiras, os pintores primitivos....
Em todas as viagens procuro um pouco mais dessa arte popular de tantas influências... Indigena, européia, africana...
Nesse espaço, ainda vou escrever muito sobre outras viagens, passando por Paris, Sabará, Helsinque, Salvador, Tallin, Roma, Bonança... sabe onde é Bonança? Eu sei.

domingo, 16 de setembro de 2007

Gastronomês

" Em conversa de gourmets, tudo pode acabar em terrine"


Como já falei anteriormente, ser cozinheiro está na moda e a sofisticação chegou às raias do ridículo. Broto de feijão virou moyashi, palito japonês agora é hashi, cogumelo é funghi, bolinho de chocolate é o petit gateaux e o prosaico vinho tinto ganhou ares refinados. Agora é bordeaux. Isso, sem falar no prosecco, que de champagne não tem nada. Claro que a gastronomia sempre foi cheia de nomes franceses e italianos, mas o gastronomês, realmente é uma língua complicada, difícil e que requer anos de estudo.
Cansado de ficar horas e horas ouvindo os novos gourmets falando um linguajar que não é para qualquer mortal entender, meu amigo inventou um recurso que deixa todo mundo com a pulga atrás da orelha. Combina de antemão, com o cunhado ou companheiro de mesa, e quando, inevitavelmente, o assunto vem à tona, ele se sai com essa frase, sempre de modo casual, sem qualquer afetação:- E quando é troblado no alfengue? O interlocutor, conhecedor da artimanha, diz sem pestanejar: - Fantástico! A impressão é que os sabores são despertados de um sono profundo. Troblar não é pra qualquer um. Os companheiros de copo e de vinho, ficam a se entreolhar, mas nenhum dá o braço a torcer. Requer um certo refinamento. Há um silêncio constrangedor até que um resolve se arriscar: - E o alfengue? Meu amigo é rápido ao responder, sem dar chance a outra pergunta: -Prefiro o importado. O nacional é meio insosso. Mesmo quando se trobla muito bem, fica um sabor meio estranho. Ao que o cúmplice completa, sem pestanejar: - Mesmo em fogo brando.... o melhor mesmo é o iraniano. Essa guerra do Bush tem trazido dificuldades ao mercado, mas a gente sempre consegue. Agora, com a baixa do dólar...
E assim vão até que ou os amigos mudem de assunto ou alguém pergunta descaradamente o que é aquilo que eles estão falando.
Bem... aí acaba a brincadeira, em meio a sorrisinhos desapontados e ou a gargalhadas sonoras. Depende dos gourmets reunidos naquela mesa.

Esse post vai para o Bruno, profundo conhecedor do gastromês clássico.