Todo ser humano, por mais humilde que seja, tem direito ao seu espaço.
Há muito não tem onde ficar. Determinam para ela uma sala pequena com janelas gradeadas. Depois sofre ação de despejo e se instala entre prateleiras de livros, papéis velhos, caixas rasgadas, equipamentos obsoletos, quadro apoiado no chão, pilhas de enciclópédias desatualizadas, dicionários sem capa, com traças nas paredes e lagartixas entre as vigas do teto. É aí que ela se instala, com suas crianças. Mas a rejeição que a atormenta se faz presente em cada palavra ferina, cada comentário sarcástico que ouve aqui e ali. -Para onde você vai? A obra ainda não acabou? Aqui não tem condições de trabalho. arrume um canto pra você.
Ela se cansa. Está exausta. Então resolve dar seu grito de independência. Arrasta pesados armários, arquivos de aço, empilha cadeiras, mexe com as mesas, encosta o velho computador na parede... Faz um canto só seu. Agora sim! Pode ter sua privacidade preservada. Não há de ser os incômodos vizinhos desse condomínio que a expulsarão do seu cantinho, construído a duras penas. Vai evitar brigas, confusões. Isso não é do seu feitio. Ela quer paz e sossego. Talvez sonhe com a aposentadoria, quem sabe tão distante. Mas nem mesmo um mandato de reintegração de posse vai fazê-la desistir de seu espaço, fruto de sua luta e seu suor. Mesmo sofrendo com o doloroso processo de apartheid, curtindo sua atroz solidão, ela já sonha com a construção de um banheiro só seu, dois ganchos na parede pra pendurar uma rede, um varal pra secar as pecinhas de roupa que ela teima em não colocar na máquina e quem sabe uma arandinha com vasinhos de violetas?... Já conseguiu se apossar da única lixeira disponível. Nada comparável à lixeira do reitor da universidade de Brasília, mas que serve bem para o que se destina:- Colocar lixo. Lendo o caderno de turismo do jornal ela tem uma idéia brilhante e já arquiteta um plano pra arrecadar algum e complementar seu minguado salário: -Vai propor visitas monitoradas ao seu cafofo com cobrança de ingressos e guia especializado. Aí poderá pagar um servicinho de marketing pessoal. Quem sabe assim, evita comentários pejorativos como o de uma colega que comparou seu cantinho a uma favela. Como é cruel a espécie humana! Boa sorte amiga! Torço por você!!!!
Esse post vai para a Edna e sua incessante luta em prol da Educação.....
terça-feira, 15 de abril de 2008
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