sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Coisas que sei...

" Para cada coisa que sei, há pelo menos cem que não sei."

Na minha memória mais remota está sempre presente a figura severa do meu avô Ricardo, nascido no primeiro dia de I888 e que jamais frequentou uma escola regular. Tudo que o pai e os livros puderam lhe ensinar ele aprendeu. E aprendeu por toda a vida. Ele viu surgir a luz elétrica, o avião, o rádio, o cinema mudo, o telefone... Gostava de viajar, de ler tudo o que lhe caía nas mãos e, sobretudo, de repassar seu insuperável conhecimento, adquirido durante os 93 anos em que viveu. Questionava tudo, buscava certezas nos velhos (velhíssimos) dicionários e enciclopédias empilhados sobre a estante, junto aos livros de viagens, de botânica, de arte, poemas, atlas em inglês e francês (que me fascinavam), mapas, recortes de jornais, revistas italianas, cartas de amigos e antigos documentos. Durante boa parte das nossas vidas ouvimos suas histórias, conselhos e reprimendas. Costumamos dizer que a nossa enorme cultura inútil se deve ao velho Ricardo, que deixou sua marca indelével nos netos que tiveram o privilégio de convier com ele e aprender que todo dia é dia de se fazer novas descobertas. Quem não se lembra de vê-lo recitar, com a voz embargada pela emoção, os longos poemas de Camões e de Castro Alves? Das fantásticas histórias do Rio São Francisco, quando comandou o Benjamim Guimarães, vapor construído nos EUA e que chegou a navegar pelo Mississipi? Os relatos das incursões pelas montanhas, quando se aventurou pela Serra dos Órgãos, da Canastra e Caparó, chegando a escalar a Pedra do Sino e o Pico da Bandeira? É inesquecível sua narrativa, rica em detalhes, da viagem que fez à Europa em 1948. Lá ele se encantou com a cultura local: museus, catedrais, castelos, ruínas do pós-guerra, obras de arte... Gostava de óperas e de música clássica. Leu e nos fez ler todos livros do Júlio Verne, Robison Crusoé, Dom Quixote, Os Miseráveis, O Conde de Monte Cristo...
Hoje, quando ouço expressões como busca do conhecimento, educação continuada, multidisplinaridade, não posso deixar de prestar uma homenagem ao meu avô. Homem à frente do seu tempo e que tinha consciência de que, para cada coisa que sei, há pelo menos cem que eu não sei....

JU - 31/09/2007

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Palavras

"Palavras são pássaros apressados. É bom ter o alçapão à mão."

Quantas vezes pensamos em escrever alguma coisa sobre nossas experiências, sobre alguém que amamos ou odiamos, sobre um livro que lemos, sobre aquilo que vimos, sobre uma viagem, um amigo, uma festa, um personagem.... E não escrevemos. Pronto. A idéia foi embora. Fugiu. Como um pássaro apressado, bateu asas, ganhou o céu, fugiu para sempre.
Isso é recorrente. Acontece sempre. Comigo, com você. É bom termos sempre à mão um papel, uma caneta. Serve o lápis dos nossos tempos de escola. O importante é que o alçapão esteja por perto, para que não fujam as palavras. Irremediavelmente. Para sempre.
Temos sempre uma história para contar, uma verdade (ou mentira) para espalhar aos quatro ventos.
Sem a palavra impressa o que seríamos? Ainda estaríamos andando pelas planícies, correndo dos predadores e buscando alimento para nos manter vivos.
Quando entro em uma grande biblioteca fico, invariavelmente, um bom tempo pensando em todas as idéias que ali estão à nossa espera. Nas milhares de páginas aprisionadas nas estantes está o trabalho árduo de pessoas que se dispuseram a escrever, a registrar a ciência, a história, a poesia, o romance. Está ali a nossa espera, toda a saga humana, as guerras, as batalhas, os avanços tecnológicos, as descobertas, a cultura de outros povos, as conquistas de novos mundos...
Alguém escreveu tudo aquilo. Na pedra, na cerâmica, no papiro, no papel, no computador. Como será o futuro da escrita?
Hoje é muito dificil imaginar o futuro porque ele chega muito sorrateiro e com toda a força das novas tecnologias. Enquanto isso, tenhamos sempre um alçapão por perto, para aprisionarmos esses pássaros apressados.

JU
30/08/2007

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Tristeza

"A tristeza pode, às vezes, sobrevoar a sua cabeça. Mas nunca a deixe fazer um ninho." O ninho é morada fixa, segura... Não há como fugir daqueles dias em que nós estamos nublados, quase chovendo... algumas lágrimas, talvez.
O importante é olhar pela janela e ver o sol, caminhar em direção a nós mesmos e nos descobrir fortes, cheios de esperanças , buscando a alegria que se perdeu não sabemos onde nem porque.
Viver é ir ao encontro da felicidade e ela nem sempre está tão distante como pensamos. As coisas simples, corriqueiras, cotidianas são, com certeza, as mais importantes: o dormir bem, o café com a família, o telefonema do amigo, o pão quentinho, o cheiro bom da comida, o beijo da criança, o sorriso do velho, a música que toca a alma, a saudade de quem já partiu, as fotos da última viagem, o abraço fraterno...
Tudo isso, que é tão pouco, pode impedir a construção do tal ninho sobre a nossa cabeça.