" Reunir os amigos em volta da mesa, partilhar o pão, a alegria e as experiências vividas..."
Quando as duas voltaram da primeira viagem internacional, chegaram com um brilho diferente nos olhos, mudaram o jeito de falar, de andar e de vestir. Será que, tão poucos dias longe desse mundinho tupiniquim, tem o poder de transformar tanto assim duas pessoas? É muito pouco tempo...
Será que o trânsito por aeroportos internacionais, o romantismo de Veneza, o luxo e sofisticação de Paris e o carinho recebido em Verona, tiveram o poder de deixar as duas tão diferentes?
Acho que sim.
Sei do que elas são capazes. Tenho experiência. Mas... Dessa vez surpreenderam. Disseram que foi a mais nova que fez tudo sozinha. Tô duvidando! Foi tudo perfeito demais. Devem ter contratado uma assessoria especializada.
Quando eu digo tudo, é TUDO mesmo! A mesa arrumada com a toalha xadrez com as cores típicas das melhores cantinas italianas, os pães rústicos, os queijos já cortados com estilo sobre a tábua, as uvas, os vinhos...
Os amigos foram chegando e se achegando à mesa farta. Timidamente, escolhiam uma cadeira, começavam a bebericar nas taças de cristal, tiravam lascas do queijo, elogiavam a bebida.
Um dos amigos, enólogo praticante, se intimidou com os vastos conhecimento do dono da casa sobre a formação geológica dos vinhedos nacionais, o microclima como fator predominante na excelência de algumas uvas, o tempo de maturação dessa e daquela casta, as características de cor e sabor, o aroma e o corpo dos chilenos e seu tanino marcante, as melhores safras dos argentinos da região de Mendoza... E os adjetivos? O que seria dos vinhos sem os adjetivos? Sutil, agudo, delicado, masculino, amadeirado, frutado, jovem, leve, intenso...
Alegria! Acabam de chegar da cozinha, as brusquetas, preparadas com técnica italiana, azeite extra-virgem, tomates, alho, manjericão e calabresa... Fumegantes. Deliciosas.
E a conversa corre solta. Acredito que o vinho contribui para soltar a língua e aquecer a alma. Ajuda a esquecer que o dólar subiu, o avião caiu, a Bolsa despencou, o Lula discursou e a Evi casou e mudou....
E é graças a ela é que hoje estamos aqui neste festival gastronômico. Foi uma overdose de sabores. A “pasta” divina, no ponto certo de cozimento, quente como deve ser, o tempero perfeito, o aroma sutil do Marsala misturado ao manjericão... Nessa hora, o assunto foi minguando. Todos muito ocupados em conseguir enrolar no garfo o spaguetto. Claro que ninguém se atreveu a cortá-lo com a faca. Seria um sacrilégio imperdoável.
Acha que acabou? Nada disso, lá vem a menina, já com jeito de “mamma”, toda poderosa, trazendo o sorvete e as caldas de mirtilo, lampone e morangos. E ainda tem o vinho próprio da sobremesa. Doce, requintado, dourado...
Será que o enólogo de plantão concorda com esses adjetivos?
No final ainda presenciamos a entrada triunfal de um bolo de aniversário para uma das convidada, parabéns pra você, presente e abraços.
Eu disse que elas mudaram... E mudaram mesmo. Agora não recebem mais com sotaque do norte de Minas, com aquele jeito doce de quem veio de lá. O sotaque agora é outro. Vem do outro lado do Atlântico.
O coração , no entanto, veio maior, compartilhando com os amigos a alegria das novas terras recém descobertas...
Este texto foi escrito em 18/08/2007 e vai para a Marlene e Ana Paula, duas meninas que trouxeram da Europa , a Itália guardada num cantinho do coração.
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