Não tenho muitas recordações da infância. Mas o que eu lembro, lembro com força... Chego a sentir cheiros, a ver cores e formas... Uma das boas recordações são as jabuticabas. Ìamos até Contagem, no sítio da Dulce. Não sei bem se era um sítio ou apenas uma casa. Dezenas de pés de jabuticabas... Carregadinhos de frutas escorregando tronco abaixo, até bem perto do chão. Enchíamos baldes, panelas, caixas... Em casa, minha mãe lavava aquele mundão de bolinhas, retirava galhos, folhas e sujeirinhas... Nós, quatro crianças, éramos sempre convocados a ajudar, o que fazíamos com prazer. Uma distração e lá íamos nós chupar as frutas doces, já limpas e separadas para fazer a geléia...
No caldeirão enorme e na panela grossa de alumínio,as jabuticabas iam pro fogo. O cheiro característico da fruta fervendo invadia a casa e as nossas narinas. Com o soquete de madeira, mamãe ia amassando lentamente as frutas. Às vezes algum adulto ajudava. Aí, depois e ferver um pouco, vinha a parte mais difícil. Passar aquilo tudo pela grande peneira de taquara... Raspa, amassa, espreme... Ia nisso a tarde inteira. O caldo grosso, mais parecendo um vinho tinto, volta agora para o fogo com uma boa quantidade de acúcar cristal. E ferve, e ferve...e mexe com a colher de pau... Experimenta pra ver se está bom de doce, se não está muito azeda... Logo a espuma brilhante e transparente começa a aparecer. Tá na hora de tirar o ponto... Depois vai para os potes de vidro esterilizados e bem tampados. Um pra vovó, outro pra Nazinha, um pra vizinha... E todos os outros vão direto pro armário. É geléia pro ano inteiro: pra torrada, pro pão, pra rechear o bolo e o rocambole. As mãos estão pretas, com a nódoa da fruta. E nós, sentados no chão, cada um com uma colher, vamos raspando a geléia brilhante e gostosa, do fundo da grande panela... sabendo que o que é bom dura pouco...
"Jabuticabas maduras. Viraram geléia. Viraram saudades. Doce saudade de minha mãe, que há tanto tempo partiu..."
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4 comentários:
Ju,
eu nâo acerto com o ponto.
Este ano os passarinhso nâo deixaram nem amadurecer direito mas deram folga para as pitangas.
Daqui de tão longe senti o cheiro.
Isabela está perdendo as bochechinhas.
Bjks.
Yara
Mais uma surpresa!
Uma panela de doce.
Um tacho de fruta que vira geléia em mãos que contam história no ponto, de saborear segredos e revelações.
Não sei se é tão fácil assim fazer gostoso o tempo.
Acho que é preciso talento de amor.
Um jeito de por a mesa, escolher a toalha,e convidar.
Ah! O convite!...
Ele começa nos olhos.
Assim as jabuticabas colhidas foram pro fogão.
Foram para fazer convite de doce de tacho de avó.
As jabuticabas não saíram do pé sem boa causa.
Saíram para servir de convite, de
pretexto, de doce de colher.
Saíram pra virar receita de mulher.
Parabéns Dona Moça prendada!
Mais uma vez "ocê" acertou no ponto!!!
Bj,
Rosângela Monnerat
Infância tem gosto mesmo.
Seu texto, sobre as suas coisas, e as fotos da Isabela em seguida, Ju, é como ver vc sob um outro ângulo... Ficou bem interessante. Bjos.
Julieeeeeeeta!
To aqui morrendo de fome e vejo essa cena! Quase nadei na cadeira aqui!
rrsrs
Bjs a todos.
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