sábado, 22 de dezembro de 2007

NATAL - De perus e Internet

"Ninguém morre antes da hora, a não ser o peru, que morre na véspera (do Natal)"


Acabo de ver decretada a extinção do famoso livro (ou caderno) de receitas. Resolvi pedir uma ajudazinha ao Google para um peru de Natal mais sofisticado. Cansei do peru à brasileira, com farofa de ovos ou torresminhos de bacon. Não quero peru à Califórnia, com aquele indefectível doce de pêssego, ameixas pretas e cerejas. Quero inovar. Surpreender meus amigos. E não é que eu é que fiquei surpreendida? Imaginem que só de peru são mais de quinhentas e noventa e cinco mil receitas. Pode conferir. Tem peru pra todo gosto. Recheado com camarões, com couscous marroquino, com molho de funghi, com carne de porco. Com maçãs caramelizadas, com gorgonzolla, ou castanhas. Desossado, fatiado, dourado. Com cobertura crocante ou cremosa. Tem uma receita do Alentejo (Portugal) sugerindo que o peru ficará mais gostoso, se obrigado a voar antes do abate. Ele deve ser embriagado com uma boa talagada de pinga, ou whisky de boa qualidade para amaciar a carne e deixá-la suculenta. Como pode a pobre ave voar completamente bêbada??? Descobri ainda, durante essa pesquisa, a história do peru. Ele é originário da América do Norte. Foi lá que Colombo ficou conhecendo o dito cujo. Até hoje os perus selvagens são muito apreciados na terra do Tio Sam, principalmente durante as festas de Ação de Graças.
Aqui, na Terra Brasilis, consideramos indispensável , às vezes obrigatório, assá-lo para a ceia de Natal. Não sei bem porque, pois o peru que assamos dia 24, com certeza estará na geladeira no dia 31 para ser reciclado para as festas de Ano Novo. Apesar de muitos não quererem comer bicho que cisca pra trás, pra não atrasar a vida no ano que se inicia.
Voltando à receita de peru assado, fiquei perdida entre tantos sites e chefs, receitas e explicações pouco convincentes. Resolvi então comprar um já bem mortinho, macio, previamente embebedado pela Sadia ou Perdigão e com um termômetro que pula quando ele estiver assado. Na hora eu resolvo o que fazer. Coloco por cima alguma coisa que tiver na geladeira e por dentro qualquer coisinha que tiver no armário. Fica mais fácil que procurar ler e entender mais de meio milhão de receitas (só em português, ouviu bem?). Se você domina outra língua vai ter um pouco mais de opções. Também resolvi que vou jogar fora todos os meus caderninhos de receitas copiadas da vovó, da mamãe, da Ofélia e da Ana Maria Braga. Vou sempre apelar pra internet, mesmo que os almoços de domingo não fiquem lá grande coisa. É bem mais moderno e atual. Experimental. Virtual...


Esse post vai para o Cristiano que não concebe uma ceia de Natal sem o famigerado peru e para a Raquel que não sabe o que fazer com aquele, que está na geladeira esperando para ser assado ainda em 2007.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

HISTÓRIAS INFANTIS - Quanta sutileza!

" Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau. E pego as criancinhas pra fazer mingau.""


Recebi de uma amiga uma dessas mensagens que nos faz pensar sobre as bobagens que falaram com a gente quando éramos crianças e que repetimos aos nossos filhos e agora aos nossos netos. A tal mensagem analisava as letras das musiquinhas infantis brasileiras. O boi da cara preta vai pegar a pobre criancinha que tem medo de careta e a famigerada Cuca agarrar o nenen cujo pai foi pra roça e a mãe foi trabalhar. Que irresponsáveis!
Atirei o pau no gato é outra pérola. Mesmo não morrendo da paulada, o bichano e seu berro sofrido causam a admiração na tal da Dona Chica-ca-ca. A discriminação e a desigualdade social são cantadas em prosa e verso quando eu sou pobre, pobre, pobre e me afasto dando marré de si. O Bitu não vem cá, porque morre de medo de apanhar. E se não me engano isso está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente... E dá cadeia. Quando a canoa virou foi fácil botar a culpa na Maria que não soube remar, incentivando o mal caratismo. A pobre da Sambalelê está doente e com a cabeça quebrada e mesmo assim vai levar umas boas palmadas. A arrogância, talvez do sargento, manda o soldado marchar direito, senão vai preso pro quartel, lembrando os anos da ditadura militar.
O Cravo brigou com a Rosa e ficou ferido , chegando a desmaiar. A Rosa pôs-se a chorar, mas o mal já estava feito e como em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher...
Ao pensar um pouco nas trágicas letras dessas inocentes musiquinhas, comecei a lembrar das histórias que contamos para as crianças e que, há tempos, nos contaram também.
A mãe do Chapeuzinho Vermelho manda a pobre menininha para a floresta, mesmo sabendo que lá mora um terrível lobo mau. A Branca de Neve, é levada para a floresta por um caçador serial killer que vai arrancar o coração de seu peito para entregar à cruel madrasta. Ela consegue escapar e vai morar com sete anões (talvez tarados), até ser envenenada e beijada por um príncipe bicha (se ele usava aquelas calças apertadinhas e capa esvoaçante, era bicha com certeza). Mesmo sendo quem é, o tal príncipe se casa com ela sem questionar a vida promíscua que ela vinha levando com os sete homenzinhos na floresta. Um espanto!
Os pais de João e Maria os abandonam numa outra floresta (num claro ato de abandono de incapaz). Ali eles ficam à mercê de uma bruxa antropófaga que gosta de carne gorda. Lembro ainda da Rapunzel, mantida em cárcere privado por anos a fio, da Bela Adormecida drogada (e talvez abusada) em seu casto leito virginal e assim por diante. Isso tudo sem falar nos Três Porquinhos, que acabaram "cozinhando" o lobo mau (que é um animal em franco processo de extinção - e extinção é para sempre). O Gato de Botas era um farsante que se deu bem, provando que a mentira e a canalhice combinam com qualquer um, não só com os políticos... O Pinóquio era mentiroso, traidor e cheio de problemas de comportamento, apesar dos esforços do Grilo Falante para colocá-lo na linha...
Acho melhor parar por aqui. Chego a conclusão que os traumas de infância estão bem justificados, assim como a violência das crianças, a falta de limites e o desrespeito pelo que é certo...
Esse post vai para a Narinha, musa inspiradora do Márcio, tocador de rebolo

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A MENINA DO AFEGANISTÃO

" Por todas as crianças que sofrem os horrores das guerras, do preconceito e do fanatismo, arrancando um pedaço do coração da gente, rogai por nós"


Menina do Afeganistão que ficou olhando pra mim na foto do jornal, como se pedisse socorro contra as bombas, os mísseis e contra as ordens do Talibã que já estabeleceram para ti um destino cruel: - Não mostrarás o teu rosto quando cresceres. Não terás direito algum. Não sonharás nenhum sonho de todas as moças do mundo. Não poderás estudar. Nunca estarás no meio das canções dos estádios, no meio dos debates literários, nas lanchonetes e nos cinemas dos shoppings. Jamais estarás na minha festa nem na minha alegria.
Eu vejo e peço a Deus e a Alá que te protejam contra as bombas, a fome e as ordens da milícia Talibã. Eu invoco a Deus e a Alá, para que te protejam. Deus dos humilhados e dos ofendidos. Deus dos aflitos e dos desprotegidos. Alá das crianças e dos beduínos, dos camelos e dos sonhadores do mundo árabe. Alá dos que carregam um sonho no coração como um vulcão clandestino.
Deus ou Alá tirai um pouco de mim para dar à menina do Afeganistão. Tirai do meu pão. Da minha alegria. Polvilhai a menina do Afeganistão com a minha esperança. Levai minha paz para a menina do Afeganistão. Eu vou jejuar por ti, vou sonhar e rezar por ti. Vou pedir a Deus e a Alá que ti façam mais forte que a fome e que a guerra. Mais forte que a tirania.
Aviões dos donos do mundo, guardai vossas bombas em nome da menina do Afeganistão!
Mísseis dos senhores da terra, adiai a morte em nome da menina do Afeganistão!



(Adaptação da crônica de Roberto Drumond, publicada no Estado de Minas de 9 de outubro de 2001)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Eficiência Postal


"Pobre daquele que não guardou consigo um pouco de bom humor."

- Há muito que eles deveriam ter mandado o tal remédio! O menino não se agüenta mais com essa chieira no peito. Essa asma está acabando com ele!
Januária, alarmada com a última crise do sobrinho, resmungava enquanto colocava os pratos e talheres na grande mesa da sala de jantar.
-Pensando bem, há mais de dois meses que eu escrevi ao Gonzaga pedindo urgência nessa remessa, e até agora nada. Primeiro dizem que o tal pozinho é milagroso, barato, fácil de encontrar... Agora ficam nessa demora?
- Calma tia, Portugal não fica ali na esquina. Talvez eles tenham tido alguma dificuldade burocrática para remeter o remédio. Mais dia menos dia, sua encomenda chega e o “queridinho” vai ficar bom de vez. Agora o que eu quero mesmo é comer, porque a fome é negra - disse Beto, o mais sensato dos três rapazes.
Januária continuou a resmungar contra o irmão que morava em Lisboa, como se ele pudesse ouvi-la.
Passados uns quinze dias dessa conversa e da última crise do “queridinho” chega um aviso dos Correios, que lá se encontrava um pacote e que o mesmo deveria ser apanhado pelo destinatário.
Beto se prontificou a ir buscar a tal remessa.
Januária, logo que abriu o embrulho se deparou com um pequeno estojo de madeira, bem embalado e com tampa de metal, contendo um pó escuro e fino. Cheirou, tornou a cheirar e comentou: - Não fede nem cheira!
Procurou alguma instrução, carta, bilhete... Nada!
- Parente é mesmo gente imprestável! Agora que mandaram o remédio temos de adivinhar o resto.Tem nada não! Uma colher de chá pela manhã, ao acordar e outra colher à noite, antes de dormir e o pobrezinho não vai mais padecer com essa moléstia dos infernos.
- Realmente... O menino não teve mais nenhuma noite em que o ar era buscado freneticamente, a boca aberta, os olhos injetados, o peito arfante. Engordou, estava corado e saudável. Foi um milagre o santo pozinho!
Januária, feliz, não se cansava de contar aos amigos e vizinhos. E já faziam três meses! Todas as manhãs e todas as noites, religiosamente, uma colher de chá remédio, vindo da “terrinha”.
O telegrama do Gonzaga chegou avisando que desembarcaria no Rio e, na segunda-feira, estaria com os parentes para contarem as novidades e colocarem os assuntos em dia.
Foi um rebuliço! Todos queriam ver o tio que há tanto tempo se fora para terras distantes. O almoço, preparado com carinho, a cachacinha do norte de Minas, a sobremesa de doce de leite com queijo fresquinho e o cafezinho servido na bandeja, na grande varanda. Todos conversando e o Gonzaga a fumar um enorme charuto, hábito adquirido em outras terras: - Pois é... agora teremos de decidir o que vamos fazer com as cinzas da tia Eufrásia que enviei a vocês. Coitada! Estava tão velhinha... Mas como expliquei “naquela carta”, ela pediu em seu leito de morte que não queria ser enterrada longe da pátria que ela tanto amava!

Escrevi essa crônica no Acuruí, em 1986 . Foi publicada no Estado de Minas, no mesmo ano.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

VIDA, MORTE, VIDA


"Deus não deu às mães o dom de transmutar o mal. De vencer os guerreiros da morte..."

Não. Não quero chorar por ele que foi tão cedo.

Deixou uma mulher sofrida e exausta, uma filha adolescente desesperada e um garotinho que ainda não entendeu que a morte é para sempre...
Sua mãe era a imagem da dor. O pai andava sem rumo, se perguntando o porquê dessa partida tão prematura.
Irmãs e irmãos tentando se lembrar dos momentos felizes, vividos na infância despreocupada. Os amigos, que não souberam de sua avassaladora doença, não conseguiam assimilar a realidade ali presente.

A vida é apenas um breve instante... Pequenino intervalo entre duas datas, a do nascimento e a da morte. Não adianta falar na saudade que é certa, compor frases fúnebres, recitar o desalento. Tudo só vai conseguir rimar com o nunca mais.

O que parece despedida é apenas um até breve. A tristeza jamais poderá ser desespero, a lembrança não será tortura, porque todos que confiam e têm esperança sabem que os olhos que se fecham para as trevas e para o sofrimento se abrirão para a LUZ. Esse fim é apenas o começo real. Vamos caminhar com a serenidade daqueles que sabem que não estamos nos despedindo e que dentro desse imenso vazio nasce a esperança-certeza de que um dia não haverá mais a necessidade de se sentir SAUDADE . O reencontro feliz, com certeza, se dará...



Neyriston,
Siga em paz ! Vá trilhando seu caminho de Luz....
E se der, cante uma canção....

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

BUENOS AIRES - Mi Buenos Aires Querida


"...e senti Buenos Aires. Esta cidade que acreditei ser meu passado, é meu porvir, meu presente...eu estava sempre (e estarei) em Buenos Aires. ( Luis Borges)


24/02/04

Já estamos navegando nas águas do Rio da Prata. O navio está bem mais estável que ontem. As águas são barrentas, não há ondas, nem o rastro de espuma que nos encanta. Do convés, já se observam embarcações de pesca e pequenos cargueiros ao longo do rio. Não vemos as margens, mas sabemos que não estamos mais navegando em águas marinhas. O sol está quente e o dia muito claro.

Impressionante como conseguem atracar um navio de 200 metros de comprimento tão encostado na amurada do cais. Eu não consigo encostar o meu minúsculo Ford KA tão coladinho ao meio-fio. O porto de Buenos Aires é enorme e muito movimentado e fica bem perto do centro. Andamos um pouco, já sentindo o jeito moderno da cidade. Largas avenidas, (muito largas por sinal), pessoas andando apressadas. Trânsito intenso, mas sem congestionamentos. Não demoramos a pegar um táxi, já treinando nosso portunhol em grande estilo. Rodamos pelas avenidas movimentadas vendo os plátamos centenários, que são maioria na arborização da cidade. As praças são inúmeras, coloridas pelas velhas paineiras inteiramente floridas. O dia claro encheu Buenos Aires de luz, só pra nos receber.
Trocamos alguns pesos em uma casa de câmbio e saímos a pé em direção à Casa Rosada. É realmente o maior marco da cidade, plantada na lateral de uma imensa e bonita praça cheia de turistas, vendedores de lembrancinhas e estudantes namorando, conversando, tomando sorvete.
A Catedral Metropolitana tem uma arquitetura belíssima, foi construída no início do século XVII, em estilo neoclássico. O piso, que está sendo restaurado, é uma composição floral de mosaicos minúsculos e coloridos. Lindíssimo! O túmulo do General José de San Martin, o herói da independência das Províncias Unidas do Prata, é guardado 24 horas pelos jovens soldados da Guarda Nacional.
Caminhamos pela Avenida 9 de Julho (dizem que é a mais larga avenida do mundo) até o imenso obelisco de 67 metros de altura. A cidade é plana, o que nos convida a caminhar.
Pegamos outro táxi e fomos pra Recoleta, que é um dos bairros mais nobres da cidade, com excelentes restaurantes, cafés, antiquários, bares, discotecas... Entramos no famoso Cemitério da Recoleta onde caminhamos entre os mausoléus adornados com esculturas antigas. Não há um só túmulo baixo. Todos têm nomes das tradicionais famílias portenhas. Seguimos um grupo de turistas alemães, até o túmulo de Evita, cheio de recados e flores plásticas mostrando que a mulher de Perón ainda tem inúmeros e ardorosos fãs na Argentina. Todos tiram uma foto diante dele. Saímos do cemitério e entramos na Basílica Menor de Nuestra Señora Del Pilar, em estilo barroco, do século XVIII. Rezamos um pouco perante altares de ouro com imagens bem típicas da cultura espanhola.

Caminhamos preguiçosamente por avenidas e ruas, sentindo o calor do sol e da cidade.

Voltamos ao navio, fizemos um lanche rápido e partimos para o show do Señor Tango. Indescritível! A casa noturna fica ao sul da cidade e tem capacidade para mais de mil pessoas. São três andares, com colunas e molduras de fotos iluminadas por microlâmpadas, paredes vermelhas e peças artísticas retratando a história do tango. A casa já estava cheia quando chegamos. O show é coisa de cinema: cavalos brncos montados por índios começam a representação da saga dos povos do Prata. As dançarinas são lindíssimas, os belos portenhos com roupas deslumbrantes transitam pela casa compenetrados em seu trabalho. Os garçons de chapéu e avental comprido trazem o vinho da casa, água e refrigerantes. A voz do “cantante” Fernando Solera é privilegiada. Tudo é feito para encantar o turista. Hollywood está presente em alguns quadros do espetáculo: uma linda mulher com asas diáfanas desce do teto, pendurada em uma gangorra, lembrando a cena mais famosa de Moulin Rouge. A orquestra de bandonions, as gêmeas louras, os dançarinos habilidosos e toda a dramaticidade do tango fazem parte do show. Vimos fotos do astro maior da casa, Fernando Solera (ele é também o dono) com Hebe Camargo, Bill Clinton, Airton Sena, Pelé, Michael Shummaker, Liza Minelli, Bill Gates e tantos outros famosos. Recebemos uma taça de champanhe para um brinde e com a música "Dont cry for me Argentina" e todo elenco no palco, acontece o final do magnífico espetáculo. É mesmo de encher os olhos e a alma.
Pensamos em esticar até à Recoleta para uma “balada” (como dizem por lá), mas a exaustão nos venceu. Voltamos para o navio, onde o buffet da meia-noite nos levou a comer “horrores”: frutas, sanduíches, tortas, doces .... Quantas calorias, meu Deus!

25/03/04

Dia lindo, céu claro, sol forte! Após um café “dos deuses” descemos do navio e rumamos para a Calle Florida onde passamos o dia a ver vitrines, passeando entre barracas de flores e gente apressada, observando como são e como vivem os portenhos. Uma multidão anda pelos quarteirões fechados carregando sacolas e embrulhos. A Galeria Pacífico é um shopping que ocupa um quarteirão inteiro. Agasalhos, bolsas, perfumes, casacos de couro, moda refinada. Os preços de alguns artigos são bem vantajosos, outros nem tanto. Comprei suéteres e perfumes, um livro sobre pássaros da região e alguns mimos para mim... Eu mereço! Comemos umas empanadas divinas, acompanhada por um gigantesco capuccino numa cafeteria super charmosa, observadas de perto por um batalhão de portenhos com seus ternos bem cortados e perfumados excessivamente. Os homens são bonitos e sentem-se obrigados a olhar e gracejar para todas as mulheres, principalmente turistas, que cruzam seu caminho, independente da faixa etária. Chega a ser meio cômico.
Buenos Aires me surpreendeu. A cidade é linda, o povo alegre e hospitaleiro, a comida excelente... E o astral da cidade?

Com certeza voltarei em breve para ver tudo que ficou sem ser visto pelo pouco tempo que tivemos. Acredito que uma semana seja o tempo ideal para se conhecer e sentir essa bela cidade.

Hoje, lendo Jorge Luis Borges bateu uma saudade gostosa de Buenos Aires....

terça-feira, 13 de novembro de 2007

GALOPÉ - Aventuras e desventuras


" A alma mineira vive de saudades. tenho saudades das velhas cozinhas de Minas...."



A coisa começou de um jeito complicado. Um dos convidados, por uma privação de sentidos momentânea, esqueceu-se, (ou não se lembrou), de que cada um deveria levar cerveja para nossa reunião, o que nos levou a buscar o produto quente em um depósito de bebidas do bairro. Não sei porque, e acho que ninguém sabe, saímos em caravana para a casa do Paulo César e da Conceição. A perspectiva de degustar o famoso Galopé do Paulinho deixou todos excitados e “deu branco” na galera, pois os motoristas sabiam o caminho e mesmo assim a preocupação de todos era a de que chegássemos juntos e ninguém se perdesse. Na bela residência do casal, fomos recebidos com carinho e logo já estávamos no melhor lugar da casa, a cozinha. Panela grande sobre o fogão, violão encostado na parede à espera dos possíveis cantores e tocadores, cerveja gelada e o aroma fantástico de comidinha da roça emprestavam ao ambiente aquele aconchego necessário para algumas horas de puro prazer.E foi exatamente isto que aconteceu: adolescentes devidamente entrosados e a única criança naturalmente excluída, mulheres trocando confidências sobre homens, maridos e seres afins, Paulinho dando os últimos retoques na sua obra-prima fumegando sobre o fogão, cervejeiros com copos abastecidos e os primeiros acordes já alegrando a festa.De Lupicínio a Ari Barroso, de Pixinguinha a Cartola, de Paulinho da Viola a Chico Buarque, todos foram homenageados, cantados e decantados. Alguns cantores desafinados e que não participaram dos ensaios prévios, procuravam o compasso e o ritmo desesperadamente, mas entre mortos e feridos salvaram-se a alegria do encontro e a descoberta de novos e promissores talentos.Com petiscos primorosos, troca de receitinhas , um vinho bem gelado e o CD da Zizi Possi disputando espaço com os cantadores presentes, chegou-se finalmente a hora tão esperada. É verdade que dois convidados mais afoitos e no intuito de provar e aprovar o Galopé já tinham consumido uma boa quantidade do jantar. Felizmente, os donos da casa tinham preparado comida suficiente para um batalhão.A comida gostosa, temperada com carinho e competência, foi sendo lentamente consumida entre suspiros e elogios. Realmente foi um sucesso o Galopé do Paulinho.Temos de assinalar a demasiada preocupação da dona da casa com o serviço do jantar, uma vez que os garçons e o maître contratados, além de não terem comparecido, faltaram ao trabalho. Também os talheres apropriados para se comer o famoso prato não foram encontrados em BH e não foi possível importá-los da cidade natal da Sãozinha. Mas tudo bem... Lambendo-se os dedos e lambuzando-se, todos se deliciaram com o Galopé, que é a mistura inusitada de galo e pé de porco, temperados com esmero e cozido no ponto certo.Por causa de compromissos no domingo resolvemos partir e que aquela reunião teria continuidade no dia seguinte à beira da piscina na casa do Maurílio. Despedidas, agradecimentos, elogios, juras de amizade eterna e lá fomos nós rumo à saída da casa.- Meu Deus! Roubaram o carro do Nivaldo! Impossível! Como foi acontecer isto? Ladrão FDP. Que vamos fazer agora? Liga pro 190. Corre no Posto Policial. O Celso é amigo dos “home”, liga pra ele. Manobra o carro, Dão. Não chora, Soraya! Vão achar o carro. Que vamos fazer? Não tenho seguro. O carro não tem alarme. Que merda!Todos pareciam baratas tontas extremamente exaltadas (talvez por causa estado etílico de boa parte dos presentes).As providências rápidas e eficientes permitiram que em 15 minutos o carro fosse localizado e o Paulinho, num gesto de perfeito anfitrião foi, junto com o Nivaldo, dar uma voltinha de camburão, com policiais fardados e fortemente armados para resgatar o Uno de estimação da família.A Sãozinha deu uma bronca exemplar nos dois “vigilantes” da rua, mas ficando na dúvida se ambos os seguranças não estariam envolvidos no delito, uma vez que ela não contribui com a caixinha...Rezamos para que o Paulo César não fosse confundido com algum meliante, uma vez que, apesar do adiantado da hora (quase 2 horas da madrugada) e do vento frio, ele estava de chinelo, camiseta e bermuda, no mais puro estilo praia. Pedimos também aos céus que o Nivaldo pudesse trazer o carro sem que os policiais o submetessem ao teste do bafômetro nem exigissem dele o documento do carro, que tinha ficado na bolsa da Soraya.Não sei se pelo Galopé ou pelo fato ocorrido, a verdade é que esta noite ficará para sempre em nossa memória, apesar de ter acontecido em Abril de 1999.




Esse post vai para os amigos que, por esse ou aquele motivo, ficamos tanto tempo sem ver, o que não implica em esquecimento. Implica, sim, em SAUDADE...