quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

HISTÓRIAS INFANTIS - Quanta sutileza!

" Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau. E pego as criancinhas pra fazer mingau.""


Recebi de uma amiga uma dessas mensagens que nos faz pensar sobre as bobagens que falaram com a gente quando éramos crianças e que repetimos aos nossos filhos e agora aos nossos netos. A tal mensagem analisava as letras das musiquinhas infantis brasileiras. O boi da cara preta vai pegar a pobre criancinha que tem medo de careta e a famigerada Cuca agarrar o nenen cujo pai foi pra roça e a mãe foi trabalhar. Que irresponsáveis!
Atirei o pau no gato é outra pérola. Mesmo não morrendo da paulada, o bichano e seu berro sofrido causam a admiração na tal da Dona Chica-ca-ca. A discriminação e a desigualdade social são cantadas em prosa e verso quando eu sou pobre, pobre, pobre e me afasto dando marré de si. O Bitu não vem cá, porque morre de medo de apanhar. E se não me engano isso está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente... E dá cadeia. Quando a canoa virou foi fácil botar a culpa na Maria que não soube remar, incentivando o mal caratismo. A pobre da Sambalelê está doente e com a cabeça quebrada e mesmo assim vai levar umas boas palmadas. A arrogância, talvez do sargento, manda o soldado marchar direito, senão vai preso pro quartel, lembrando os anos da ditadura militar.
O Cravo brigou com a Rosa e ficou ferido , chegando a desmaiar. A Rosa pôs-se a chorar, mas o mal já estava feito e como em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher...
Ao pensar um pouco nas trágicas letras dessas inocentes musiquinhas, comecei a lembrar das histórias que contamos para as crianças e que, há tempos, nos contaram também.
A mãe do Chapeuzinho Vermelho manda a pobre menininha para a floresta, mesmo sabendo que lá mora um terrível lobo mau. A Branca de Neve, é levada para a floresta por um caçador serial killer que vai arrancar o coração de seu peito para entregar à cruel madrasta. Ela consegue escapar e vai morar com sete anões (talvez tarados), até ser envenenada e beijada por um príncipe bicha (se ele usava aquelas calças apertadinhas e capa esvoaçante, era bicha com certeza). Mesmo sendo quem é, o tal príncipe se casa com ela sem questionar a vida promíscua que ela vinha levando com os sete homenzinhos na floresta. Um espanto!
Os pais de João e Maria os abandonam numa outra floresta (num claro ato de abandono de incapaz). Ali eles ficam à mercê de uma bruxa antropófaga que gosta de carne gorda. Lembro ainda da Rapunzel, mantida em cárcere privado por anos a fio, da Bela Adormecida drogada (e talvez abusada) em seu casto leito virginal e assim por diante. Isso tudo sem falar nos Três Porquinhos, que acabaram "cozinhando" o lobo mau (que é um animal em franco processo de extinção - e extinção é para sempre). O Gato de Botas era um farsante que se deu bem, provando que a mentira e a canalhice combinam com qualquer um, não só com os políticos... O Pinóquio era mentiroso, traidor e cheio de problemas de comportamento, apesar dos esforços do Grilo Falante para colocá-lo na linha...
Acho melhor parar por aqui. Chego a conclusão que os traumas de infância estão bem justificados, assim como a violência das crianças, a falta de limites e o desrespeito pelo que é certo...
Esse post vai para a Narinha, musa inspiradora do Márcio, tocador de rebolo

Um comentário:

Zimbábue Comunicação e Marketing disse...

Tia, adorei este texto...eu já tinha parado para pensar sobre isso algumas vezes, até já ouvi algumas versões menos traumatizantes para Atirei o pau no gato...
Mas acho que se eu não morri cantando dessa forma, mal não vai fazer...kkk